Eve Brandão



Fecho os olhos e sinto o clima diferente dos dias. O azul do céu mais intenso pela manhã e as noites frias pedindo um bom vinho acompanhado de leituras e companhias agradáveis, ajudam a me mostrar que a estação da minha inspiração está a passar.


Com data e hora marcada começa o Outono. A cinza neblina das manhãs seguida da chuvinha fina e constante das tardes anunciam a temporada de novos pensamentos e amores. Amores, sim! Afinal, não é à toa que Maio e Junho são meses permeados de amor.


Maio e o amor incondicional das mães, seres divinos que estão, sendo Outono ou não, ao lado de seus pupilos a lhes proteger e guiar. Da mesma forma, lembrar de Junho sem cantarolar, mesmo que mentalmente, "Love is in the Air" torna-se quase que inevitável com toda a "passion vibe” no ar e o universo todo a me cutucar com painéis de Neon-propagandas, lojas, promoções, presentes, corações, motéis-anunciando a chegada do mês dos amantes.


Em meio a todo esse trê-lê-lê de sentidos e cheiros, cá estou com meu bom e velho companheiro: o grafite que risca o papel com minhas certezas e medos. Com ele na mão, aproveito o vento que cessa o verão para captar novas verdades. Permito-me, assim, à liberdade.


Então, acabo a inventar junto aos meus devaneios e traços, uma nova estação. A que reparte o ano em cinco pedaços. Sem hora, nome, nem dias exatos. Sem dias frios ou quentes; alegres ou tristes. Um tempo marcado por nossa vontade e por dias que só a gente sente. Vividos e recriados a cada minuto. Embalados pelas nossas canções, estes são controlados pelo ritmo da nossa respiração, que varia de acordo com o nosso desejo...


Mesmo sem duração, tenho medo de que tudo isso passe, destruindo nossos enlaces e minhas expectativas. Mas, já que somos nós a inventar nossa época, creio que minha inspiração nem tão cedo acabará! Vou deixar rolar...